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JANGADEIROS CEARENSES

A rotina dos homens que sobrevivem do mar

As águas agitadas e o sol queimando na pele não são empecilhos para que as redes sejam lançadas. Do amanhecer ao anoitecer, os pescadores mantêm viva a esperança das telas cheias

MATHEUS BARBOSA

4º Semestre

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Peça fundamental, e que também embeleza as jangadas, a vela necessita de cuidado especial dos jangadeiros (Fotos: Matheus Barbosa)

Comprar peixe nos mercados próximos a Avenida Beira Mar de Fortaleza nunca foi uma tarefa difícil. O maior esforço a ser feito é visitar os diferentes pontos de venda buscando o melhor preço. Mas, até que esse processo seja finalizado na mesa do consumidor, a figura do pescador torna-se imprescindível. Com uma rotina diária árdua, o mar transformou-se na terra para muitos deles.

 

“Às três da manhã já estou de pé para iniciar mais um dia de jornada”, afirma Valmir dos Santos, 54, que vive há 32 anos dessa profissão. A experiência adquirida com o pai ajudou bastante. Porém, pelas dificuldades para sustentar a família, os filhos não vêm seguindo mais o ofício do pai. “Das cinco pessoas que moram comigo, só um dos meus filhos é pescador. O restante trabalha em outras áreas, e eu dou força, porque nossa profissão não é fácil”.

O motor na pequena jangada e o arrumar prévio do “treco”, como são chamadas as redes para a pesca, facilitam para que o trabalho não perdure por tanto tempo. “Entro no mar enquanto ainda está escuro e volto para a terra às 9h. Por conta da idade, não trabalho mais como antigamente, faltam forças”, conclui Valmir.

Já para José Adauto, 55, morador do bairro Castelo Encantado e pescador de camarão, a rotina é mais específica. “Fico cinco dias no mar com outros quatro tripulantes. Trabalhamos das 5h até perto das 20h. Quando o mar está calmo é melhor. Já quando os ventos estão fortes, neste período atual do ano, o perigo é da embarcação virar”.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pode ser contraditório, mas os 43 anos vividos como pescador tornam a tarefa mais difícil. “Ninguém pode negar que a experiência para sair de situações complicadas em alto mar é totalmente válida. Mas até que o corpo execute o que a mente manda, é um processo mais demorado”, analisa José. Após atracar a embarcação, o camarão é vendido aos marchantes, pessoas responsáveis por revender aos mercados o produto pescado depois de longos dias no mar.

Conhecedor de que a profissão é detentora do famoso dizer “histórias de pescador”, que muitos julgam ser fantasiosas, José reconhece a má fama que os pescadores adquiriram. “As pessoas dizem que somos mentirosos. Não adianta eu mentir: em todos esses anos vivenciei poucas coisas. Mas já vi uma baleia que chegava a ter entre 15 a 20 toneladas”, afirma.

OS JANGADEIROS E SEUS MARES DE HISTÓRIA

 

Conversadores, criativos, mais tímidos em alguns casos e sorridentes em outros. Além da bravura no mar, os pescadores ficaram conhecidos por outra característica: seus contos. Verdade ou mentira? Difícil responder. Mas que são curiosos, não se pode negar.

 

“Aqui mesmo na região, um jangadeiro passou cinco dias à deriva depois que a embarcação virou. Para sobreviver já estava tomando água do mar. Em todo esse tempo, ele ficou em cima de uma tampa de uma caixa. Se alimentava dos peixes que pegava. Até que um dia, uma jangada o avistou e o trouxe de volta para a terra” declara Valmir dos Santos, 54, pescador há 32 anos.

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Após um dia de trabalho, o pescador Valmir dos Santos guarda sua rede, fiel companheira na labuta 

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As jangadas, no litoral da Beira Mar de Fortaleza, são um dos pontos turísticos marcantes da Terra do Sol

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